O livro
“Platão, creio, estava doente” (Fédon 59 B). Esta famosa frase do Fédon, a que alude o título desta obra, traduz uma estratégia de ocultamento, pela qual Platão sinaliza claramente que sua obra escrita não pretende se apresentar como um conjunto de documentos históricos, testemunho de diálogos efetivamente ocorridos, ao mesmo tempo em que lhe permite fazer do condutor dos diálogos, na maioria deles Sócrates, uma dramatis persona de si mesmo. Assim como na tradição direta dos escritos Platão esconde-se deliberadamente, mas revela seu pensamento sob a máscara dos personagens literários que criou, também na tradição indireta seu pensamento encontra-se camuflado, seja pelo caráter alusivo de muitas passagens de seus escritos, seja pelo testemunho de seus discípulos imediatos e longínquos.
Marcelo Perine é Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1986), professor associado da PUC/SP, onde leciona filosofia grega no Departamento de Filosofia e Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia. Pesquisador-bolsista do CNPq, desenvolve pesquisas sobre a tradição indireta do platonismo e a interpretação platônica da Escola de Tübingen-Milão. Além de dezenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras, publicou, por Edições Loyola: "Ensaio de Iniciação ao filosofar" (2007), "Quatro lições sobre a ética de Aristóteles" (2006), "Eric Weil e a compreensão do nosso tempo" (2004), "Filosofia e violência - Sentido e intenção da filosofia de Eric Weil" (1987, trad. francesa, 1991) e organizou "Diálogos com a cultura contemporânea" (2003). Traduziu, junto com H. C. de Lima Vaz, os cinco volumes da "História da Filosofia Antiga", de G. Reale (Loyola, 1991-1995), e "Para uma nova interpretação de Platão - Releitura da metafísica dos grandes diálogos à luz das 'Doutrinas não escritas'", também de G. Reale (Loyola, 1997).