”Dois poemas”. In Magma. v. 26. n. (14), December 2018. São Paulo
DE TUDO QUE AMEI
Para Edith Södergran
De tudo que amei resta-me a insônia e um punhado de melancolia
há o que persiste as horas à frente o desencaixe nosso ser antípodas-complementares
um passo atrás no calendário solar
é sempre violenta a reintegração de posse de um corpo: costelas, aréolas passageiras as ocupações e giram as folhas no ar rubor antes do gelo
mas para além do silêncio e dos paralelos que fatiam a esfera há a espera e o sonho
o que insiste em ser primavera
[Birigui, Brasil, 28 de fevereiro de 2018]
FLUXO
o abastecimento sanguíneo entre presença e ausência entre batida e silêncio corre seu ciclo e pouco e nada lhe importa dos abismos que se encaixam nas suspensões
o bombear leva aos becos do peito as luzes mínimas irrigação natalina fora de época
são lâmpadas que não se recolhem atravessam as estações perfuram o tempo
a poeira dos dias jaz na intermitência
[Castelnuovo di Garfagnana, Itália, 25 de dezembro de 2017]