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Giovanna Cristina Vivinetto. ”Cinco poemas”. In Theodora Zine. n. 2, 2019

Per anni ho provato a stanarti
dal doppiofondo umido delle mie
ossa. Sarebbe stato uno spremerti
via dagli occhi se solo ti avessi
trovata in tempo – invece è stato
un chiedere invano senza risposta.

Sarà che certe cose a quindici anni
non si possono ancora capire
– mentre tu in silenzio già strisciavi
nelle stanze disabitate
incorrotte del mio corpo.
Sarà che la voce interna fiorisce
solo a forza di strappi e toppe
mal ricucite – da lì sguscia l’anima.

Eppure seppellito sotto mucchi
di foglie secche un indizio c’era
– un debole presupposto
inavvertitamente esisteva:
il rifiuto del padre, il rigetto
della sua assenza – la sua voragine,
la preponderanza del ruolo
materno – l’ombra femminile
troppo a lungo riflessa.

Fu nel vuoto che ti conficcasti:
una scheggia di legno mentre
si chiudono le finestre
che sbattono sole al vento.
Fosti il compromesso da accettare,
la voce interna da nutrire,
la preghiera da salmodiare
in ginocchio, l’ultima toppa
sgraziata da ricucire – sul cuore.

 

Quando nacqui mia madre
mi fece un dono antichissimo,
il dono dell’indovino Tiresia:
mutare sesso una volta nella vita.

Già dal primo vagito comprese
che il mio crescere sarebbe stato
un ribelle scollarsi dalla carne,
una lotta fratricida tra spirito
e pelle. Un annichilimento.

Così mi diede i suoi vestiti,
le sue scarpe, i suoi rossetti;
mi disse: «prendi, figlio mio,
diventa ciò che sei
se ciò che sei non sei potuto essere».

Divenni indovina, un’altra Tiresia.
Praticai l’arte della veggenza,
mi feci maga, strega, donna
e mi arresi al bisbiglio del corpo
– cedetti alla sua femminea seduzione.

Fu allora che mia madre
si perpetuò in me, mi rese
figlia cadetta del mio tempo,
in cui si può vivere bene a patto
che si vaghi in tondo, ciechi
– che si celi, proprio come Tiresia,
un mistero che non si può dire.

Sono una madre atipica, madre
di una figlia atipica. Ci sono
voluti diciannove anni
per partorirti, c’è voluta
la fragilità che prende
a diciannove anni, l’ansia
adolescente di mettere mano
dietro le proprie paure. Forse
se non l’avessi fatto allora
non l’avrei mai fatto – fecondarmi
per ridiventare minuscola
materia di un corpo universale.

 

Il tuo pianto – lo sento ancora dentro –
è la voce miracolosa dei morti
che sale muta dalla terra,
il verbo che salva, che scuote
il pianto intimo dell’animale
– hai mai visto una bestia piangere? –
che non dà strazio, eppure c’è
minimo, docile, conficcato.

 

E forse, figlia mia, sei giunta di notte
quando le ore non hanno volto,
né pianto, né ombra di nome
per mostrarmi che in ogni vita
c’è un punto esatto che cede
ma anche un punto, più occulto,
che resiste.

 

Anche l’organo ritrovato

è una ferita che si apre in verticale.

Il vessillo di un corpo-bosco

che muore e rinasce a pezzi.

Ho imparato l’arte del mettere

da parte – giorni, anni, parti

del corpo in disuso, nomi, mani.

Trattenuti in un solo posto.

Li ho liberati con quel taglio

che si protende da parte a parte

– un parto che si compie dormendo.

Ho vendicato, ho svuotato,

qualcosa ho perso, ho ritrovato

ma due mani a volte non bastano

a richiudere i lembi. Due mani

che mimano nel vuoto quello

che appariva un tempo

a volte non sono abbastanza.

 

Così anche l’organo ritrovato

è una ferita.

 

Non ho figli da dare – non potrò.

Non ho tube che si gonfiano

né ovuli da spargere per il mondo.

Non ho vulve da tenere fra due

dita – da schiudere tra le valve

delle gambe non ho niente.

 

Ma lui mi sfiora, continua a toccarmi,

a perlustrare con le dita questo

corpo imploso, risucchiato tutto

all’interno. Fuggito senza lasciare

tracce. E lui persiste a sfiorarmi

per trovare il punto che possa

dargli piacere. Che possa

consolarlo, farlo sentire uomo.

Non glielo dico, ma non c’è.

 

Eppure tutta questa sua goffa

illusione, quest’avventatezza

nel proiettarsi verso il dato certo

per un attimo mi restituisce

tutto ciò che mi manca – e al suo miracolo

questa sera mi faccio donna.

Completamente.

 

Giovanna Cristina Vivinetto

 

 

Por anos tentei desentocar-te 
do fundo duplo e úmido dos meus
ossos. Teria sido como espremer-te
dos olhos para fora se tivesse
te encontrado na hora certa – mas
foi um pedir em vão sem resposta.

Será que certas coisas aos quinze anos
ainda não se podem entender
– enquanto tu em silêncio já rastejavas
nos quartos deshabitados
não corrompidos do meu corpo.
Será que a voz interior floresce
só com os rasgos e remendos
mal costurados – de lá desabrolha a alma.

Ainda assim enterrado sob tantas
folhas secas havia um indício
– frágil presuposto
insistia inadvertido:
a recusa do pai, rejeitar
sua ausência – sua voragem,
a preponderância do papel
materno – a sombra feminina
há tanto tempo refletida.

 

Foi no vazio em que te cravaste:
uma farpa de madeira enquanto
se fecham as janelas
que batem sozinhas com o vento.
Foste o acordo a ser aceito,
a voz interna a ser nutrida,
a prece a entoar
de joelhos, o último remendo
desajeitado a se costurar de novo – no peito.

 

 

 

Quando nasci minha mãe

me deu um presente antiquíssimo,

o dom do adivinho Tirésias:

mudar de sexo uma vez na vida.

 

Desde o primeiro pranto entendeu

que meu crescimento seria

um rebelde descolamento da carne,

uma luta fratricida entre espírito

e pele. Uma aniquilação.

 

Então me deu suas roupas,

seus sapatos, seus batons;

disse: “tome, meu filho,

torna-te o que és

se o que és não pudeste ser”. 

 

Tornei-me adivinha, outra Tirésias.

Pratiquei a arte da clarividência,

fiz-me maga, bruxa, mulher

e me rendi ao murmúrio do corpo

– cedi à sua fêmea sedução.   

 

Foi então que minha mãe

se perpetuou em mim, fez de mim

filha cadete do meu tempo,

no qual pode-se viver bem com tanto

que se vagueie em círculos, a cégas

– que se esconda, assim como Tirésias,

um mistério que não se pode dizer.

 

 

 

Sou uma mãe atípica, mãe
de uma filha atípica. Levou
dezenove anos
para te parir, levou
a fragilidade que se tem
aos dezenove anos, a ansiedade
adolescente de colocar as mãos
por trás dos próprios medos. Talvez
se não o tivesse feito então
nunca o teria feito – fecundar-me
para tornar-me de novo minúscula
matéria de um corpo universal.

 

Teu choro – ainda ouço-o por dentro –
é a voz milagrosa dos mortos
que sobe muda à terra,
o verbo que salva, que sacode
o choro íntimo do animal
– já viste chorar uma fera? –
que não é suplício, mas existe
mínimo, dócil, cravado.

E talvez, minha filha, chegaste de noite
quando as horas não têm rosto,
nem choro, nem sombra de nome
para me mostrar que em cada vida
há um ponto exato que cede
mas também um ponto, mais oculto,
que resiste.

 

 

 

Também o órgão recobrado
é uma ferida que se abre em vertical.
O estandarte de um corpo-bosque
que morre e renasce em pedaços.
Aprendi a arte de colocar
de lado – dias, anos, partes
do corpo em desuso, nomes, mãos.
Depostos num só lugar
libertei-os com aquele corte
que se estende de lado a lado
– um parto que se faz dormindo.
Vinguei, esvaziei,
algo perdi, reencontrei
mas duas mãos às vezes não bastam
para fechar as fímbrias. Duas mãos
que mimam no vazio aquilo
que parecia no passado
às vezes não são o suficiente.

Assim também o órgão recobrado
é uma ferida.

 

 

 

Não tenho filhos para dar – não poderei.
Não tenho trompas que incham
nem óvulos para dispersar pelo mundo.
Não tenho vulvas para manter entre dois
dedos – para descerrar entre entre as valvas
das pernas não tenho nada.

 

Mas ele me roça, continua a me tocar,

a perlustrar com os dedos esse
corpo implodido, todo sugado
para dentro. Fugido sem deixar
vestígios. E ele persiste em roçar
para encontrar o ponto que possa
lhe dar prazer. Que possa
consolá-lo, fazer com que se sinta homem.
Eu não o digo, mas não existe.

Ainda assim toda sua desajeitada
ilusão, essa temeridade 
em se projetar em direção ao dado
certo por um momento me devolve
tudo aquilo que me falta – e para o seu milagre
essa noite me faço mulher.
Completamente.

 

Tradução de Francesca Cricelli