Sfioro. La fronte. Il braccio. La spalla.
Il profondo sortilegio della scapola.
Materiale – bambino la tua fronte e io
Maturità, assenza nelle tue chiare
Tenute.
Ahimè. Mentre tu cammini
In lucido orgoglio, io sono già il passato.
Questa fronte che è mia, prodigiosa
Di nozze e sentieri
Così diversa dalla tua fronte abbandonata.
Sfioro. E in un solo momento vivo
E vado morendo. Tra terra e acqua
La mia esistenza anfibia. Passeggia
Sopra di me, amore, e cogli ciò che mi resta:
Girasole Notturno. Foglia segreta.
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
*
Che bocca deve rosicare il tempo? Quale viso
Deve arrivare dopo il mio? Quante volte
Il tulle del mio fiato deve riposare
Sulla fremente bianchezza della tua schiena?
Attraverseremo insieme le grandi spirali
L’arteria del silenzio stesa, il vuoto
scalino del tempo?
Quante volte dirai: vita, venere, magma-marina
E quante volte dirò: sei mio. E i pomeriggi stesi,
le larghe lune, le notti agoniche
Senza poter toccarti. Quante volte, amore
Un nuovo versante dovrà nascere in te
E quante volte in me dovrà morire.
Que boca há de roer o tempo? Que rosto
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes
O tule do meu sopro há de pousar
Sobre a brancura fremente do teu dorso?
Atravessaremos juntos as grandes espirais
A artéria estendida do silêncio, o vão
O patamar do tempo?
Quantas vezezs dirás: vida, vésper, magna-marinha
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor
Uma nova vertente há de nascer em ti
E quantas vezesem mim há de morrer.
*
È lecita, agli amanti, la voce sbiadita.
Quando ti sveglierai, al tuo orecchio un solo mormorio:
Amami. Qualcuno in me dirà: non è il tempo, signora,
Raccolga i suoi papaveri, i suoi narcisi. Non vede
Che sul muro dei morti la gola del mondo
Gira all’oscura?
Non è il tempo, signora. Uccello, mulino e vento
In un vortice di ombra. Può cantare d’amore
Quando tutto si fa notte? Lamenta prima
Questa tela di seta tessuta dalla gola.
Amami. Svanisco e supplico. Agli amanti
sono lecite vertigine e richiesta. E la mia fame è così grande
Così intenso il mio canto, così infuocato il mio tessuto
Che tutto il mondo, amore, canterà con me.
Aos amantes é lícito a voz desvanecida.
Quando acordares, um só murmúrio sobre o teu ouvido:
Ama-me. Alguém dentro de mim dirá: não é tempo, senhora,
Recolhe tuas papoulas, teus narcisos. Não vês
Que sobre o muro dos mortos a garganta do mundo
Ronda escurecida?
Não é tempo, senhora. Ave, moinho e vento
Num vórtice de sombra. Podes cantar de amor
Quando tudo anoitece? Antes lamenta
Essa teia de seda que a garganta tece.
Ama-me. Desvaneço e suplico. Aos amantes é lícito
Vertigens e pedidos. E é tão grande a minha fome
Tão intenso meu canto, tão flamante meu preclaro tecido
Que o mundo inteiro, amor, há de cantar comigo.
(Immagine: Beatriz Milhazes, Os três músicos, 1998)