Maddalena Lotter (1990-) nasceu e vive em Veneza. É musicista, flautista, formada em música e letras clássicas pela Universidade Ca’ Foscari de Veneza. Integra a Orquestra de Câmara de Veneza. Ganhou o prêmio Taglio de poesia na Itália e foi finalista de inúmeros outros como o prêmio Carducci.
Francesca Cricelli (1982-) é poeta, pesquisadora e tradutora. Publicou Repátria no Brasil (Selo Demonio Negro, 2015) e na Itália (Carta Canta, 2017). Organizou as cartas de Ungaretti a Bruna Bianco (Mondadori, 2017) e traduziu, entre outros, Elena Ferrante (Biblioteca Azul, 2016). Doutoranda em Estudos da tradução na USP.
sergio maciel
* * *
Há um respeito entre os troncos
podem florir um ao lado do outro
mas devagar, com a devida distância
deixar espaço ao hálito das ramas;
queria aprender com as árvores
como se deter sem fusão mas
veio então a tempestade, a mesma
água, pensei, que molha agora
tua casa vale abaixo.
C’è un rispetto fra i tronchi
si può fiorire l’uno accanto all’altro
ma piano, a dovuta distanza
lasciare spazio al respiro dei rami;
volevo imparare dagli alberi
come si sta senza fusione ma poi
è arrivata la tempesta, la stessa
acqua, ho pensato, che ora bagna
la tua casa a valle.
§
Faz escuro em Veneza,
os telhados antigos das casas se debruçam
rubros e cor-de-rosa sobre a água enquanto fecha
o mercado do peixe
e são de ouro nossas vontades mudas.
Si fa buio a Venezia,
i tetti antichi delle case si affacciano
rossi e rosa sull’acqua mentre chiude
il mercato del pesce
e d’oro son le nostre voglie mute.
§
Os corpos nos anos, isso faz curiosas as minhas mãos
à procura de idades diferentes
quero tocá-los todos, os outros
com seus mundos de pele.
Só a pele responde à demanda do tempo.
O corpo sabe de casas não minhas
nas quais entra-se com educação
tirando os sapatos;
horas e horas numa cama acariciando
as costas, muros de vértebras
e a coluna é uma rodovia
dos teus anos de ontem
dos quais não participei.
Mas te viras no escuro e nos olhamos
tenho então um nome,
eu sou o hoje imortal.
I corpi negli anni, questo fa curiose le mie mani
alla ricerca di età diverse
voglio toccarli tutti, gli altri
con i loro mondi di pelle.
Solo la pelle risponde alla domanda sul tempo
Il corpo sa di case non mie
dove si entra con educazione
togliendosi le scarpe;
ore ed ore in un letto a carezzarsi
le schiene, muri di vertebre
e la colonna è un’autostrada
dei tuoi anni di ieri
a cui non ho partecipato.
Ma se ti volti nel buio e ci guardiamo
allora ho un nome,
io sono l’oggi immortale.
§
Saber ficar sem; nasce-se para isso
para desatar as mãos dos quadris
tornar-se distância. Ninguém permanece
mais do que um átimo, há átimos com distinta
duração mas com o mesmo procedimento.
Havia um que parecia infinito
e o amamos muito.
Uma vez compreendido exercitar-se
para unidade mínima do fôlego, manter
o ar e também isto, depois, soltar.
Saper fare a meno; si nasce per questo
per sciogliere le mani lungo i fianchi
diventare distacco. Nessuno rimane
più di un attimo, ci sono attimi con diversa
durata ma con la stessa procedura.
Ce n’era una che pareva infinita
e molto l’avevamo amata.
Ma una volta capito esercitarsi
all’unità minima del respiro, tenere
l’aria e anche quella, poi, lasciare.
§
Aconteceu
quando o dia inteiro tentei
me isolar e só respirar
vertical e não ouvi-los nunca
em seus medos e exterminadas pretensões;
finalmente esquecida
veio-me por cima o sono quieto e fundo
como a mão do mar.
Avvenne
quando per tutto il giorno cercai
di isolarmi e solo respirare
verticale e non ascoltarli mai
nelle loro paure e sterminate pretese;
finalmente dimenticata
il sonno mi fu sora zitto e fondo
come la mano del mare.